ARTIGO

Na Festa da Carne, conserve a sua

No Carnaval, o cuidado com a saúde deve ser redobrado. Na festa da carne, vale aquela que estiver mais bem conservada.

por Vides Júnior

Quando você vai a um site de sexo, a última coisa que espera ver é uma matéria brochante, que fala de doenças, cuidados e consciência pesada. Seria muito mais fácil falar pra você aloprar no sexo, entregar-se a quem bem entender, gozar, gozar e gozar...

Infelizmente, a coisa não funciona desse jeito. E não é de hoje. Tudo começou nos anos 80, quando a disseminação da aids impôs sérias restrições à nossa vida sexual. A princípio, era conhecida como a ‘doença dos gays’, numa alusão ainda ignorante de uma peste que havia começado a se disseminar no meio homossexual.

Hoje, sabemos que a aids é uma doença que não escolhe sexo, cor ou religião. Sabemos também que as curas milagrosas que algumas igrejas pregam aos portadores do HIV são falsas. Já presenciamos épocas em que o número de contaminados heterossexuais crescia assustadoramente se comparado com o número de homossexuais.

Agora, estamos passando por uma fase onde o descuido volta a imperar nas relações pessoais. Existe, atualmente, um grupo de pessoas denominadas barebackers, que procuram parceiros para sexo sem camisinha. Alguns grupos de internet já reúnem os adeptos do barebacking, promovendo festas fechadas e orgásticas onde trocam de parceiros naturalmente, baseados apenas na confiança que têm um no outro. Alguns acreditam que já existe cura para a infecção pelo HIV e que, portanto, não importa se pegarem a doença.

Tudo isso nada mais é do que pura falta de informação. Todo cuidado continua sendo pouco, principalmente numa época onde as informações sobre doenças sexualmente transmissíveis estão em baixa.

O Carnaval é uma das épocas de maior transmissão de HIV no Brasil. O descuido e o abuso nas relações sexuais de salão, com os parceiros de uma noite só, com o tesão despertado pelos corpos nus do salão, tudo isso contribui para que milhares de pessoas passem a viver momentos difíceis porque decidiram arriscar alguns poucos minutos de prazer inconsequente.

O que nós, gays, temos que ter em mente na hora da diversão, é o fato de que somos mais entusiasmados na hora do ‘Vamos Ver’. Esse entusiasmo é decorrente de nossa própria liberdade de expressão e da facilidade com que nos relacionamos um com o outro. Excitados com os homens que encontramos e que têm as mesmas fomes, acabamos passando por cima de regras que sabemos existirem para nossa proteção; assim, o sexo oral sem camisinha de repente é visto como natural e inocente; homens gozam uns sobre os outros, sem se preocupar com qualquer tipo de contágio, a camisinha fica esquecida dentro da carteira.

O carnaval deve continuar sendo a festa da carne. Mas não só isso. Deve ser também a festa da consciência e da responsabilidade. O sexo não está proibido e o amor livre pode continuar aflorando entre os desconhecidos. No entanto, se soubermos agir com cautela e discernimento, continuaremos a nos divertir cada vez mais, colecionando corpos e aventuras, trocando carícias e fluidos, vivendo e deixando viver.

Aventuras sempre são bem-vindas, o que não deve acontecer é se esquecer de que a aventura não faz parte do cotidiano e que pode acarretar problemas à sua saúde. De nada adiante entregar-se a um sonho sexual de cinco minutos, se depois você pode passar toda sua vida tratando esse sonho para que não se torne um pesadelo.